Saudade é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já.

Vou para o meu quarto, o único espaço que sinto verdadeiramente meu. Sento-me, pego no meu caderno de capa vermelha ondulada e deixo que a caneta, pesada de sentimentos e saudade, se encarregue de contar a nossa história àquela folha de papel que de certo a entenderá – já viveu outros romances, já foi, quiçá, uma carta de amor… com certeza a entenderá.

Sempre utilizei a escrita como libertação da alma e do coração. Sinto que, ao escrever, as coisas ganham algum sentido, tornam-se menos confusas.
Acabo por me lembrar daquilo que mais dor me causa, o passado. Não, que disparate estou eu a dizer?! Não é o passado que me atormenta, esse teve rasgos de felicidade contigo, mas sim o presente. Não dói o ontem, dói o hoje. E talvez o amanhã, quem sabe...
Desculpa, mas não consigo arranjar mais palavras para ti, não as há capazes de conter toda esta saudade. Posso apenas dizer-te que a tua ausência dói. Quebra o coração de tal maneira que até já me levou a pensar juntar-me a ti, afinal, sei a morada. Sabes bem que não o faria… Não , não poderia! Nunca fui de cometer loucuras mas assola-me constantemente a ideia de perder-te. Só não queria perder mais ninguém. Já não sei se sou capaz de suportar a perda de mais uma conversa, mais um abraço, mais um beijo na testa. Não consigo abdicar de mais um sorriso, de mais um amigo – se mais não puderes ser.
Não ias, certamente, gostar de saber que estou a chorar, que acredito cada vez menos na felicidade, julgo-a já uma utopia… E é do teu conhecimento que nunca fui fã de utopias, são meros sonhos irrealizáveis.
Pensei em desistir, mas tenho a certeza de que jamais me perdoarias. ~
Se o fizesse, terias que habituar-te. Já me falhaste uma promessa, a de estares sempre ao meu lado. Eu perdoei-te, é difícil cumpri-la.
Saberás tu que agora queria ter-te aqui, deitado do meu lado? Não precisavas de dizer nada, bastava manteres-me segura no teu abraço até adormecer. Tenho a sensação de que não irias compreender que agora preferia o silêncio – mas só agora – e desatarias a falar, a tagarelar como fazes sempre. Nunca me entendeste bem, dizes que tanto sou livro aberto como o mais secreto dos diários, que eu sou muito misteriosa e é essa a razão pela qual nunca vais deixar de gostar de mim, haverá sempre um mistério por deslindar.

Promete-me agora todos os beijos e abraços, todo o tempo do mundo… irei acreditar.