O dia nasce lenta e vagarosamente, enquanto ela ainda dorme. Tem sido assim nos últimos dias – troca os dias pelas noites. As horas de sol passam devagar, teimando em mantê-los afastados... As outras, aquelas quatro ou cinco em que conseguem ficar juntos, parecem ter asas que as fazem voar bem rápido. Esse correr desenfreado das horas faz com que o tempo nunca lhes pareça suficiente para amar. Sim, não arriscam em vão uma palavra bonita, na realidade, eles amam-se todas as noites.

Quando ela chega, depois da saída sorrateira pela janela, ele abraça-a e depressa abre a janela, queixando-se de calor. Diz que o seu coração anda em sobreaquecimento e talvez seja ela a tal pessoa certa que nunca procurou mas que sempre quis encontrar.

Aí é ela quem cora, finge-se fria e desprendida, mas no fundo, aquelas palavras acabam por ir derretendo um pouco o gelo que se formou em volta do seu coração, à custa de tanta dor e desilusão.
Todas as palavras ditas naquelas noites, ficam gravadas na memória - talvez também no coração - e assim vai construindo uma história comum.

No fim, depois de inúmeros pedidos para ficar só mais um pouco, ela acaba por sair. Depois de bater a porta do carro, entra pela janela, muda depressa de roupa e deita-se na cama: é sempre esse o ritual que realiza, desde que o conhece e o encontra todas as noites, em segredo.
Devido à hora tardia, não demora a adormecer. Mas antes relembra cada momento, cada fala, cada conversa, cada pormenor dessas horas que passaram juntos e que lhes sabem sempre a pouco. Relembra tudo isso e sorri, notando que os seus dias acabam sempre da melhor forma...

Entretanto, recebe uma mensagem:

Já cheguei a casa princesa. Adorei tudo...
Posso não sonhar contigo, porque não controlo estas tretas do inconsciente, mas vou pensar em ti, de certeza....
Gosto de ti* Beijo

Ajeita a cabeça na almofada, fecha os olhos.... Agora sim, pode dormir descansada.