Se’s

Desde que partiste, tenho pensado muito em ti. E quando o telemóvel toca ao receber uma mensagem penso que podes ser tu, que aquele acidente não passou de um pesadelo e que não foi a ti que tantos disseram adeus, pela última vez, naquela tarde chuvosa de sábado. Acabo por perceber que não és tu a perguntar ‘Como está a menina?’ - e tanto que implicava com a forma como o dizias…

Será que, se te tivesse respondido, na quinta feira, hoje ainda estarias connosco? E se tivesse ido contigo tomar café, na quarta, como tinhas falado? Será que se o João te tivesse ligado a combinar para onde iam sair, não te tinhas enfiado dentro daquele carro e iniciado aquela viagem sem regresso? Será que não percebeste que aquela não era a melhor companhia para ti naquela noite?

Se’s e mais se’s … Perco-me neles só para não pensar que nunca mais vou poder encontrar-te por aí, nas ruas que já me dizem tanto. Custa-me ainda aceitar que morreste. Custa-me por não ter conseguido dizer-te que sim, também és uma pessoa bastante especial, um amigo extraordinário e sempre disposto a amparar-me… Custa-me saber que tinhas razão quando me disseste que ‘nunca mais’ íamos cometer aquele erro… Devia ter percebido e feito alguma coisa para mudar aquela trágica noite. Tu tinhas que estar certo, tu que já sabias tanto da vida…

Sei, consequência das nossas tantas conversas, que nem sempre optaste pelos melhores caminhos. Dizias ter levado uma vida errante mas tinhas mudado, nos últimos anos, porque entendeste que não valia a pena. E eu sabia que sim, que tinhas mudado verdadeiramente e que haviam erros que jamais voltarias a repetir… Porque tiveste, então, que escolher a companhia errada Pedro, porquê? Porque bebeste ao ponto de não pensar nas consequências? Porque não o impediste de conduzir naquele estado?

Cada vez que os meus olhos se fecham, lembro-me do teu sorriso… Desse que nunca deixavas abandonar-te.

E é por tudo isto que não te disse adeus… Porque, mais cedo ou mais tarde, acabaremos por encontrar-nos novamente.

Até já Pedro.