Três
- Querida Carmen, querias fazer as pessoas pensar. Dizer-lhes que devem saborear cada dia; o teu funeral, o resto das suas vidas, o amor, a amizade, as roupas caras, as pequenas coisas e as coisas decadentes. «A diversão é uma arte», foi o que disseste. Vou ler um pequeno excerto do diário que escreveste para a Luna:
"Espero sinceramente deixar algo de mim com as pessoas, e que depois elas te falem disso. Na verdade, acho - e não só agora que estou doente - que, se queremos alguma coisa na vida, temos que ir em frente e conseguí-la. Temos de desfrutar cada dia, porque não sabemos tudo o que irá acontecer mais tarde. Isto so como um lugar-comum, mas não consigo dizê-lo de outra forma.
Certa vez, quando eu era uma au pair em Londres, costumávamos ir a muitos restaurantes e pubs. Lembro-me que a dada altura tinha um único par de sapatos, que tinha buracos nas solas. Não tinha dinheiro para os mandar consertar. Por fim, quando a escolha era entre solas de sapato novas ou uma noite divertida com os meus amigos, escolhi esta última. Pensei para comigo: sentir-me-ei mais feliz em sair e me divertir com outras pessoas do que ficar sozinha em casa com solas novas nos sapatos.
Depois disso viajei pelo mundo. Ouço falar de muita gente que gostaria de ter feito o mesmo, mas que não o chegou a fazer. Luna, é frequente termos uma centena de razões para não fazer uma coisa, mas uma única razão para a fazermos deveria bastar. Seria muito triste se tivesses pena das coisas que não chegaste a fazer porque, no fim de contas, só podemos aprender com todas as coisas que fizermos."
Pouso o diário da Carmem e bebo um gole de água. A igreja está em silêncio absoluto.
- Amor da minha vida, aprendi contigo e desfrutei da tua companhia. Vou ter saudades tuas, mas vou continuar, por mais difícil que isso possa por vezes ser. E vou cuidar bem da tua filha. Adeus, amorzinho.
retirado de "e depois do amor", de Ray Kluun - que aconselho vivamente.
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