A guerra contra as uniões oficiais de pessoas homossexuais parte do princípio de que estas não são pessoas normais.
Os homossexuais são todos uns larilas que só pensam em sexo, engates em lugares públicos, e se passeiam de calças de licra e pochete.
É uma questão paralela à do racismo. Há pessoas que não suportam negros porque consideram que são todos ladrões e criminosos. Tomar a parte pelo todo é um recurso estilístico que me faz muita impressão fora da literatura, e não penso que seja coisa própria de uma civilização num estado tão avançado... (Talvez não seja tão avançado assim...)
Um heterossexual branco pode andar ao engate nas casas-de-banho masculinas da área de serviço de Fátima (ou outra qualquer, whatever) que já não será um larilas, um pega-de-empurrão; por outro lado, o mesmo indivíduo pode assaltar criancinhas todos os dias à saída das escolas, o que não conota a raça branca com a criminalidade.
Porque a criminalidade tem obrigatoriamente de ser negra!!!
A estupidez vence todos os esforços civilizados para a construção de um ser humano justo relativamente ao próximo.
Esta conversa vem a propósito da proposta para uma futura legalização da união civil de casais homossexuais. Para mim, civil é pouco...
Os homossexuais deverão ter o direito, como qualquer outro ser humano, a oficializar a sua união. Mas avancemos.
Um dos principais obstáculos apresentado às uniões homossexuais é a proximidade a que estes ficam de exigir o passo seguinte: o direito à procriação medicamente assistida ou à adopção. E aí, eis que se levanta um coro de vozes. Está bem, eles que se juntem, e façam uns com uns outros as "poucas-vergonhas" que costumam fazer, mas que jamais possam ter à guarda criancinhas, porque os homossexuais só podem desejar ter filhos para abusarem delas sexualmente ou, no mínimo, para os tornarem larilas como eles. Os miúdos não podem conviver com aquele modelo aberrante de família!
Quantas vezes não assistimos já a actos de violência de pais/mães heterossexuais para com os filhos? No geral pensa-se: "Ah, isto é só para ele não repetir a asneira que fez ou que disse!"... Se o homem/mulher em questão fosse homossexual, seria a prova provada de que os homossexuais não sabem, nem podem educar crianças...
Tenho a impressão de que a família tradicional(entenda-se este tipo de família como sendo aquela composta por um homem e uma mulher heterossexuais com um ou dois rebentos) tem mostrado ser brutal relativamente às suas crianças. Quantas notícias de agressões ouvimos nas notícias, de pais (ao que tudo indica, heterossexuais) que maltratam e, até, matam os próprios filhos, por nada?
Posso afirmar, objectivamente, que a capacidade para se ser um bom pai ou mãe não pode ser avaliada pela escolha sexual de cada um. E posso afirmá-lo porque, objectivamente (até me custa escrever isto, de tão óbvio!), os homossexuais possuem as mesmas virtudes e defeitos que os heterossexuais, portanto, não creio que dêem pais melhores nem piores.
Uns hão-de acertar e outros hão-de falhar, como quaisquer pais bem intencionados.
Por outro lado, posso também afirmar, objectivamente, que os homossexuais têm sido todos criados e educados por famílias heterossexuais, encabeçadas por grandes machões, cujo exemplo parece não ter frutificado. Portanto, posso ainda afirmar que os modelos imitados pelas crianças não são necessariamente os que encontram na família.
A própria ideia de família tradicional é um modelo falhado...
O mundo mudou ligeiramente e isto é um facto inegável. A ideia de família alargou-se.
Hoje, será mais correcto chamar-se família a um grupo que mantém laços de afecto entre si, independentemente do sangue que corre nas veias de cada um...
Finalmente, espero, com alguma ansiedade, o dia em que verei, na capa de uma revista, a foto de um homossexual português com o seu rebento, adoptado legalmente.
Se tudo já mudou, é necessário tornar visível a mudança.
Agora é a altura em que me despeço, com a espererança de ter tornado alguns aspectos mais claros, mesmo nas mentes escurecidas pela homofobia e pelo racismo...
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