Abraça-me outra vez

(Decidi revolver os rascunhos... e aqui está um daqueles 30 textos! Este nem era bem rascunho.. Já há muito que aguardava a oportunidade de sair daquele caderno de capa vermelha!

São recordações, boas recordações... Passadas contigo P.!

Porque quem é especial uma vez, é especial sempre... Apesar de tudo!)

Chovia lá fora e o cair compassado das gotas de água encontrava-se com o bater dos seus corações.

No conforto daquelas quatro paredes, abraçavam-se em silêncio, num diálogo mudo mas intenso. Uma carícia nos cabelos dela era o suficiente para a prender ali, desejando que aquele momento nunca mais acabasse. Aninhava-se nos seus braços, encostava o rosto ao seu peito e ouvia, deliciada, a sua respiração pausada e profunda.
Sempre sonhara sentir o que sentia naquele momento. Apesar de nunca o ter experimentado, tinha a certeza que era o melhor que podia alguma vez desejar. E ele, ele fechava os olhos naquele abraço e envolvia-a com mais força, como se receasse que ela pudesse desaparecer. Rodeá-la daquela forma fazia, não só, com que ela se sentisse segura, mas também com que ele ficasse completamente seguro de si. Era como se ela o preenchesse.

Por ali ficaram, sem darem conta do tic tac desenfreado do relógio e as nuvens cinzentas que pairavam quando estes entraram em casa, deram lugar a um céu negro e assustador.

Mas não importava, nada podiam temer na presença um do outro; nada poderia destruir as emoções que experimentavam.

Eram só eles...

O mundo lá fora parecia tão distante que era impossível distinguir as suas formas com clareza.

Acabaram por adormecer passado pouco tempo, cobertos pela pequena manta de lã e, ao primeiro raiar do Sol, ele acordou frenético e ansioso sem saber porquê.

Depressa percebeu, pois sentiu o vazio daquela casa, na ausência dela.

Tinha partido, mesmo sem se despedir. Em cima do puff (o verde, que sempre fora o preferido dela), repousava um pequeno bilhete, no qual reconheceu rapidamente a sua letra redonda e pequena.

"Não queria um último beijo, prefiro guardá-lo e ter a certeza

de que será o primeiro da próxima vez."

27-10-2007