[hoje chorei porque soube que era o fim, mesmo]

Desde a noite passada, já repeti inúmeras vezes, que não voltaria a falar para ti, mas é inevitável.

Contigo e por ti, já soltei mil gargalhadas e sorrisos, já fiquei embaraçada com confissões e segredos, já disse sempre e nunca... Agora digo-te que, lá no fundo, sempre soube que este dia ia chegar mas nunca quis acreditar em tal hipótese.

Conseguiste tornar-me algo vulgar, comum e vulgar. Sei que sou de vidro, culpa-me por não ser de cristal, por não ser um sólido que termina com faces planas simetricamente dispostas. Eu culpo-te por teres mudado as palavras - isso é bem pior.

Decidiste que era altura de dar um fim ao que não chegou a ter início. De um momento para o outro, sem qualquer aviso prévio, colocaste um ponto final numa frase que nem tinha, realmente, começado. Sinto que tudo isto, entre nós, só teve fim e nunca começo.

Revolvendo a memória consigo ainda ouvir as palavras que pronunciaste, calma e vagarosamente, não deixando margens para dúvidas ou ambiguidades - não desta vez.

Sou ainda capaz de recordar todos os momentos felizes e serei incapaz de esquecer o dia em que me disseste que te tinha cativado. Será que te lembras?

"Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativares, minha vida ficará cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O som dos teus passos chamar-me-á para fora da toca, como se fosse música. [in O principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry]"

O que é feito de todas as promessas, de todas as frases feitas que, ditas por ti, pareciam verdadeiras obras-primas...?

Sei que ficou uma carta por escrever, um beijo por dar, uma palavra por dizer, um sentimento por sentir, um sorriso por mostrar, uma mão por agarrar, um riso por ouvir, uma memória por recordar, ficou tanto...
Digo-te, com toda a certeza, de que acabou a esperança do dia de sol a teu lado e do seu pôr na praia encostada ao teu ombro, acabou o sorriso que me fazia sorrir de dia para dia, acabou o sentir-te aqui tão perto, acabou aquilo que nem nunca tinha começado...

Tu mudaste as palavras e agora só me resta seguir em frente, seguir o meu caminho…

Não sei o que fomos, mas sei que morreu na noite passada.