Porque hão-de uns ser mais do que outros?

Os meus pais sempre se queixaram porque, segundo eles, tenho um espírito revolucionário demasiado aguçado. Dizem eles que, como não suporto injustiças, não me importo de dar a cara por causas que defendo e em que acredito. Desde pequena que ouço dizer que os pais têm sempre razão e, neste caso, não poderia ser mais verdade.

Tudo isto vem a propósito de uma conversa, que ocorreu numa tarde desta semana, com alguns colegas da escola, sobre o casamento homossexual e, a consequente, possibilidade de adopção.

Dizia uma das minhas colegas, um bocado armada aos cucos, que para ela a questão do casamento não era relevante mas, em relação à adopção, estava totalmente em desacordo.

As razões por ela apresentadas não me pareceram muito credíveis e fundamentadas, mas talvez seja um problema meu, que não dou facilmente o braço a torcer, principalmente, quando acho que a razão está do meu lado.

Segundo a tal colega, os casais homossexuais não devem nunca poder adoptar crianças porque:

- esse facto (ser filho de dois pais ou de duas mães) vai causar grandes problemas, a nível psicológico, nas referidas crianças. o que é que elas vão pensar quando, na escola, os colegas falarem do pai e da mãe? não é natural e não é bom para as crianças.

- a segunda justificação, vigorosamente defendida pela rapariga em questão, era a mais estúpida de todas elas. acredita que uma criança que se desenvolve no seio de uma família homossexual terá mais tendência a seguir essa orientação sexual. eu avisei que era estúpida.

- terceira: se a ideia do casamento gay se generalizar, daqui a uns anos já não existirá humanidade porque não existirá reprodução.

Vejo-me obrigada a concordar, um pouco, com o primeiro aspecto. A integração de filhos de casais homossexuais não será fácil, o percurso escolar poderá ser um tanto ou quanto complicado porque poderão ser alvo de discriminação por parte dos colegas. Colegas esses que apenas se limitarão a repetir aquilo que ouvem, em casa, por parte dos pais. Sei que iria ser um processo de integração complicado mas é, na minha opinião, um passo que tem de ser dado e quanto mais cedo, melhor...

Depois, para refutar a segunda teoria (a mais estúpida) limito-me a perguntar "de onde surgiram os homossexuais?!". Não é uma doença que se transmite quando viajamos para um país de terceiro mundo e bebemos água que não está nas melhores condições, nem quando fazemos sexo sem usar preservativo... A homossexualidade não é uma doença!!! Sendo assim, de onde surgiram os primeiros homossexuais??

Ora, claro está que as pessoas que têm essa orientação sexual nasceram de casais heterossexuais (homem+mulher), talvez até sejam fruto de um casal extremamente conservador e puritano, muito crente em Deus e nos santos, exemplarmente fiel... O que importa referir é que, a orientação sexual de cada um é independente da orientação sexual de quem o criou. A homossexualidade não se transmite de forma hereditária. É algo tão natural como a heterossexualidade, no entanto, menos aceite devido ao facto de ser menos frequente.

Em relação ao terceiro ponto - que aborda o possível fim da humanidade - nem sei o que dizer... A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo não irá fazer com que todos os homens queiram casar com homens, e as mulheres com mulheres. A legalização apenas permite aos gays e lésbicas portugueses, realizar um sonho, estabelecer uma vida em conjunto com o seu companheiro, estar oficialmente unido num vínculo, que dizem, ser eterno. Se dúvidas existirem ainda, basta recorrer ao recente caso da legalização do aborto. Não é por ser legal que o número aumentou de forma exponencial, como diziam os oponentes. Muito pelo contrário...

Assim sendo, não estará posto em causa o futuro da humanidade porque, tal como existirão casais homossexuais, também existirão casais hetero que continuarão a reproduzir-se, que continuarão a ter filhos e a assegurar a preservação da espécie.

Em suma, o que importa referir é que a homossexualidade não é uma doença, é sim uma forma diferente de gostar, é entregar todo o nosso amor a alguém que nos é mais semelhante, que é do nosso sexo.

Não é a escolha sexual de cada um que define se será um bom ou mau pai. Se não acreditam vejam a quantidade de notícias que relatam, diariamente, os maus-tratos sofridos por várias crianças, vítimas silenciosas do abuso dos pais (os tais "pais perfeitos" só porque são heterossexuais).

Heterossexuais, bissexuais, homossexuais... Todos seres humanos, repletos dos mesmos defeitos e virtudes.

Porque hão-de uns ser mais do que outros?