18 de março de 2010

Nos últimos dias, as palavras atropelam-se, pisam-se umas às outras, tentando povoar a folha de papel branca em primeiro lugar. Na verdade, quando chega a hora de sairem cá para fora, resolvem desistir. Quando chega a hora de tomar uma decisão, decidem voltar atrás. Tal como tu, meu cobarde.

Para piorar mais um bocadinho a minha vida, que ultimamente tem sido pintado de negro-noite, fui visitar a minha avó e não gostei do estado em que a encontrei.
Para além de não me ter reconhecido, estava demasiado cansada e fraca. O que ainda me descansa é o facto de ter alguém perto dela 24 horas por dia.

Avó... Irei sempre visitar-te. Podes não fazer a menor ideia de quem te fala e agarra a mão envelhecida, podes não saber quem é aquela que insiste em afastar-te a mecha branca de cabelo para trás, podes não saber quem te dá um beijinho na testa e diz "eu venho vê-la depois avó...", mas eu não me esqueço dos tempos que passei contigo, dos abraços carinhosos, dos sermões que me davas quando corria perigosamente pela tua rua de inclinação acentuada, das costas de marmelada que só tu sabias fazer, das vezes em que te dizia que "o chocolate branco não engorda vó" e tu rias, cúmplice das minhas desculpas sem sentido... Eu não me esqueço de ti nem dos teus lindos olhos azuis que, infelizmente, não herdei.
Estarei sempre contigo Avó.

2 comentários:

  1. Minha querida, os teus comentários contagiam-me acredita *.*
    Quanto ao teu texto, está maravilhoso (é nas avós que muitas encontramos muita força e coragem para prosseguir, vimos nelas coisas que agora não se vêm nem por sombras) =$
    Um beijinho

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  2. Joana, eu percebo bastante bem isso que estás a sentir nesse momento. Ainda, em Setembro do ano passado fez um ano que a minha avó morreu. E ver isso que dizes para mim é como se estivesse a recordar a minha vivência de um dos mais horrorosos dias de todos. Na última vez em que a fui visitar, ela estava deitada na cama, de olhos fechados e mal conseguia falar. Quando me aproximei para lhe dar um beijinho na testa (uma das coisas que ela mais me fazia), ela virou-se e disse isto com um grande esforço: "Ai o meu amor, ai o meu amor". Ela tinha poucas forças mas lá conseguiu arranjar algumas para me dizer isso. Chorei ao pé dela, imenso. E quando ela se virava para mim, não dizia nada, nem fazia gesto algum, mas sentia que ela estava a tentar falar-me, para que não chorasse mais. Todos os dias em que me lembro das palavras dela, apetece-me fechar-me e derramar lágrima de saudade e de alegria por a ter na minha vida. A vida é assim, mas ela e todas as pessoas da tua vida não serão lembradas porque já não estão connosco fisicamente, mas por nos ter transmitido a própria vida delas para dentro de nós. Alegra-te por isso. Beijinho grande e que tudo corra bem, é isso que eu quero :)

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Desde já Obrigada :)

Only Memories.