3 de abril de 2010

Porque é que as pessoas são assim?

Hoje, devido ao facto de toda a família estar reunida por esta altura, tive uma conversa com uma prima, uns bons anos mais velha, como nunca havia tido.
A prima em questão - que tratarei por Sofia daqui para a frente - passou por uma separação há cerca de quatro meses. De um dia para o outro, o marido com que vivia há mais de dez e com quem tem dois filhos, disse-lhe que não aguentava mais toda aquela rotina, que precisava de mudar de ares... Saiu de casa e deixou-a completamente sozinha com duas crianças na idade dos porquês que questionavam constantemente a razão pela qual o pai não vinha mais dormir a casa.
É certo que o ex-marido, ou marido porque os papeis do divórcio ainda precisam da assinatura do elemento masculino do casal, continua a ver as crianças, passando dias com elas, dividindo as despesas alimentares e escolares, bem como as inerentes à vivência diária. Também continua a dizer à Sofia que só quer o bem dela, que a quer ver feliz, mas que não conseguia mais suportar aquela situação em que estavam.
O marido da Sofia arranjou agora uma namorada, que supõe-se existir já há algum tempo, com quem está a partilhar casa.
Explicações introdutórias à parte, passo a falar do motivo que me levou a escrever este post.
Apesar de ter saído de casa, o marido - porque os papeis do divórcio ainda precisam da assinatura do elemento masculino do casal - continua a dar esperanças à Sofia. Diz-lhe que agora não volta a casa, agora está a tentar construir uma vida nova, agora quer que ela esteja bem e que continue a sua vida. E é a utilização excessiva do agora que deixa a Sofia neste estado esperançoso e estagnado. Como ela confessou entre lágrimas ele nunca disse nunca...
É certo que sou um pouco supeita para falar porque, na verdade, nunca fui muito à bola com o Sérgio - o quase ex-marido. Sempre o achei um pouco convencido, arrogante, com a mania que é superior a todos os outros, por aí.
O que me custa é que ele continue a iludir a minha prima Sofia, que lhe continue a alimentar a chama deste amor que nunca se apagou. Que continue a ser muito querido para ela, que seja compreensivo quando todos pensavam que não o iria ser, que continue a querer mantê-la como porto seguro no caso do tiro no escuro que decidiu dar não ser certeiro... É isto que me irrita!

Todos temos, pelo menos uma vez, vontade de quebrar todas as regras, de fugir à rotina que nos sufoca os dias, que nos aprisiona a alma. Mas a vontade, por si só, não é suficiente. Há que ter coragem para dar esse passo, para caminhar sobre o arame, sem rede que nos ampare uma queda fatal. Mas, ainda mais do que vontade e coragem, é necessária consciência. Consciência de que a nossa vida vai mudar - pode mesmo dar uma volta de 180 graus - e que temos inúmeras consequências pela frente: umas boas, outras nem tanto.
E é disso que falo, das consequências. Eu não posso decidir que vou viajar para Londres por tempo indefinido - embora vontade não me faltasse - pois tenho um período lectivo pela frente, tenho inúmeros compromissos a que não posso faltar, tenho uma rotina que tenho que seguir... Não me entendam mal. Não digo que não se deva quebrar a rotina: acho que é saudável, que faz bem. O que penso é que devemos ter consciência das mudanças que essa quebra acarreta, das consequências.
Não critico o Sérgio - não sei porque o chamei assim, vendo bem, não têm mesmo ar de Sérgio - pela atitude que tomou. Até compreendo. Não estava feliz na relação que tinha com a Sofia, tinha necessidade de mudar e assim o fez. Critico sim, e não é pouco, pelo facto de não quebrar de vez com o passado, de não deixar espaço à Sofia para esta criar uma nova vida para si.
Ele, apesar de não a querer, não a quer perder totalmente porque receia que o tiro no escuro que decidiu dar não seja certeiro. Quer tê-la ali no caso das coisas não correrem como espera.
Entretanto, a Sofia vai permanecendo agarrada a um passado que não volta mais - e que ela não aceitaria outra vez - mas do qual não é capaz de se soltar.

Eu sei minha querida, o que é fingirmo-nos alegres, felizes e contentes mas, no fundo, no coração, chorarmos todas as dores de um amor perdido... Mas isso passa. Um dia vais perceber que não custa assim tanto enxugar as lágrimas, noutro irás dar conta que as lágrimas já não deslizam pelo teu rosto e, posteriormente, vais ter o teu coração tão cheio de vida que não darás importância ao que sofreste - é apenas parte do passado, tal como ele. 

Sim, sim... Eu sei que não estavas à espera que fosse assim, tão adulta e consciente - como me disseste. Talvez a nossa diferença de idades nunca tenha proporcionado uma ligação mais próxima... Mas eu estou aqui :)

2 comentários:

  1. Lamento pela tua prima Sofia...faz-me reviver a minha história. Muito pouco diferente da dela, aliás de diferente tem só a atitude do Sérgio. O meu "Sérgio" nunca me deixou para viver aquele outro amor, mas talvez por causa das cirscunstâncias daquela outra pessoa.
    Eu não conheço a tua prima, como é óbvio, mas de qualquer forma deixo aqui o meu conselho: para ele estar a viver já com uma 3ª pessoa, havia de facto esse relacionamento já há algum tempo. Ela não deve permitir-se a esperar. Apesar de díficil esta tomada de consciência, daqui por uns tempos ela verá que foi a melhor decisão (pudesse eu voltar atrás...).
    Mesmo que ela espere, e um dia eventualmente volte a estar com ele, são insuportaveis os pensamentos que nos assolam da relação que houve entre o nosso marido e essa 3ª pessoa. Aliás, arrisco a dizer que isso irá comprometer para sempre a nossa relação, porque não faz parte de um passado antes de nós, mas de um passado em que houve uma partilha triangular...

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  2. Fiquei numa só palavra: Boquiaberto :x
    Sabes, este post para além de magnífico, sim, porque embora eu seja um puto que se agarra demasiado aos sentimentos (e deixo-te à descoberta) consigo perceber que está a ser bastante difícil para a tua prima.
    Ainda assim, tenho de discordar de uma coisa.
    Mudar de rotinas é bom, mas quebrar rotinas que prometemos serem fiés a nós e à pessoa que amamos para o resto da vida não é nada bom e isso custa. Pode levar anos a recomporem-se de uma rotina quebrada.
    Condeno o "Sérgio", devia ter dito à tua prima que NUNCA mais iria ter alguma coisa com ela, para assim ela acabar com as esperanças que ainda existem dentro do coração dela.

    Beijinho, Boa Páscoa e mais uma vez, adorei o post e o Blog.
    Rui Fernandes - Blog Nimoui

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Desde já Obrigada :)

Only Memories.