Peço-te desculpa pelo que te vou dizer… Tenho medo de utilizar palavras desadequadas que te possam, de alguma forma, ferir – porque não é essa a minha intenção, nunca foi.

Mas tenho que fazer isto e, agora, já não sei de outra forma para falar para ti, sem ser esta. Pessoalmente, as palavras sempre decidiram jogar ao esconde – esconde, disfarçando-se por detrás das lágrimas que nos eram inevitáveis.

Eu sei que posso ser um pouco dura, por vezes, na forma como te digo as coisas. E sei que posso ser um pouco chata, posso falar sempre do mesmo assunto, posso bater vezes sem conta na mesma tecla… Mas acredita, que se o faço, é porque preciso de desabafar, porque sinto falta da tua companhia, das tuas palavras certas tantas vezes. É porque me sinto cada vez mais sozinha e te vejo, a ti minha querida, cada vez mais longe. Não digas, por favor, que não mudou nada, que continua tudo igual e que só tens menos tempo. Não me mintas mas, principalmente, não mintas a ti própria. Eu sei que tudo está diferente, eu sinto- nos diferentes. E tu sabes como eu sou com estas coisas do sentir…

A verdade, e é com o coração aberto que ta digo, é que não vejo espaço para mim na tua nova vida. Acho que não me encaixo nas tuas tarefas diárias, que não sei como agir no teu novo grupo de amigos. E sim, são os teus amigos… Porque para mim, nada significam. Tu sabes, eu sou a ‘da mania’. Sinto-me cada vez mais à margem na nossa amizade, sinto que o passado que ambas construímos se está a destruir aos bocados, como um glaciar num dia de sol.

Não te atribuo culpas porque se, na realidade existirem, pertencem a ambas, na mesma quantidade. Eu sentia que este dia havia de chegar, mais cedo ou mais tarde. O dia em que iria precisar da tua mão para me apoiar e não saber, mais, onde encontrá-la. Mas nunca pensei que chegaria assim, tão rápido, como um cancro que se esqueceram de detectar. Sempre quis atribuir a culpa à distância que um dia, hipoteticamente, nos separaria; às noites que não poderíamos festejar juntas; aos olhares que trocávamos em vez de palavras e que deixariam de existir; às conversas sempre compreensivas que não teriam mais lugar… Nunca podia ser nossa, a culpa, de deixarmos de ser quem outrora fomos: as melhores amigas!

E sim, custa-me escrever tudo isto, custa-me falar de nós assim, no passado. Mas a verdade é que já não sei mais o que posso fazer, já esgotei todas as ideias para nos voltarmos a aproximar, já não tenho forças para evitar as lágrimas à tua frente – e hoje, sei, que tenho vergonha de chorar à tua frente, vergonha que me vejas como uma fraca que faz de tudo uma tragédia…

Neste último fim de semana, por exemplo, que passámos juntas… Senti-te tão distante!! E não me refiro às noites em que saímos e em que nada foi igual. A essas pouco liguei. Falo-te de tudo o resto. Da mão no ombro de que precisei quando ouvi aquela música que tanto me diz, do ‘não chores’ quando as lágrimas me teimaram em escorrer pela cara abaixo… mas esquece, não poderias vê-las porque não estavas lá. E também não viste certamente, o esforço que fiz para não chorar, quando ouvi aquela frase dos teus amigos… Pode parecer insignificante para ti, mas doeu como uma faca que me cravaram no peito. Senti-me pequenina e sem brilho naquele momento, senti-me um brinquedo sem corda… Senti-me desamparada, perdida num sítio estranho … Pouco podias fazer, eu sei. Mas não esperava aquela atitude. Se fosse eu, tinha-me certamente saído um 'disseram isso? anormais...!' e não teria, nunca, ficado em silêncio... Mas nós somos diferentes de tanto sermos iguais.

Acredita que me dói imenso escrever tudo isto… Mas sei que os nossos relógios estão a marcar horas diferentes: talvez o meu tenha parado num tempo que não volta mais.